quarta-feira, 28 de abril de 2010

Em Pouso Alegre, psicólogos debatem atuação junto ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

A reportagem aqui descrita fora retirada do Jornal da IV Psicologia nas Gerais. Descrevo na íntegra o texto.

Encontro na Região Sul ajudou a esclarecer desafios da Psicologia neste modelo de atendimento à população vulnerável: evento também trouxe o debate acerca da comunicação no país
Violência e exploração da infância, abandono familiar, abuso sexual, pobreza, preconceito e outras formas de desestruturação social acontecem, atualmente em todas as regiões de Minas Gerais, nos maiores e menores municípios e também na zona rural. Em Pouso Alegre, um dos pólos do sul do estado, essas questões foram compartilhadas pelos psicólogos e psicólogas da região que participaram do IV Psicologia nas Gerais, promovido pelo Conselho Regional de Psicologia (CRP-MG). Para levantar o tema, a psicóloga Adriana Reis, da Secretaria Municipal da Assistência Social da cidade de Betim trouxe suas experiências junto ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS).
A atuação da Psicologia nesse campo ultrapassa o aspecto clínico. O psicólogo que atua junto ao SUAS deve estar pronto para ouvir mas, ao mesmo tempo, precisa trazer outros conhecimentos da Psicologia Social, do trabalho com idosos, com mães e de outras abordagens participativas. “Temos um desafio dentro da assistência social, que é levar o indivíduo a uma reflexão crítica da sua história. Temos que contribuir para que aquelas pessoas não sintam que estão, simplesmente, participando de reuniões para conversar de alguma coisa. Nossa função é tornar esse processo mais participativo”, enfatizou a psicóloga.

CRAS e CREAS
A estrutura que está sendo construída pelo SUAS conta, atualmente, com duas instâncias principais, o CRAS e o CREAS, com unidades espalhadas por todo o território nacional. O CRAS atende a chamada proteção básica da Assistência Social, ou seja, famílias em situação de pobreza, sem acesso aos serviços públicos básicos como saúde e educação ou em situações gerais de risco. O CREAS, por sua vez, atua nos serviços de proteção especializada a vítimas de violência, exploração, abuso sexual ou indivíduos cumprindo pena criminal em regime de liberdade assistida.
O objetivo do sistema é adequar a sua estrutura a cada localidade, de acordo com suas características, população e com o tipo de proteção social mais necessário aos indivíduos.
POLÍTICA PÚBLICA EM CONSTRUÇÃO
Apesar das iniciativas do SUAS para a promoção do direito à seguridade social, a rede de assistência ainda não é tão sólida e não atinge a todas as localidades com a mesma eficiência. Este foi um ponto levantado por grande parte dos psicólogos presentes no encontro em Pouso Alegre. A palestrante enfatizou a necessidade de outras iniciativas além do governo federal, nesse processo.
“Cidades como esta, Pouso Alegre, que é considerada uma cidade pólo, deveriam ter ações regionais de pólo nas questões da assistência social. Deveria haver, também consórcios locais entre os municípios para lidar com questões como a dos moradores de rua ou da criminalidade, que às vezes são menores do que aqueles dos grandes centros. Isso poderia ser tratado conjuntamente, dividindo resultados e estratégias”, defendeu Adriana.
A perspectiva da atuação do psicólogo no SUAS a partir da opinião do autor do blog
Devo esclarecer que atuo no Centro de Referência da Assistência Social – CRAS da cidade de Pingo D’água localizada no interior de Minas Gerais. Auxilie a implantação e estruturação desta modalidade de atendimento no município em questão. Para maiores informações convidamos a visitar o blog (www.craspd.blogspot.com).
Durante esses quatro anos de atuação como psicólogo do CRAS identifiquei alguns pontos levantados pelo artigo em questão. A primeira refere-se à atuação de nós, profissionais da Psicologia ultrapassar a intervenção clínica. Observo que grande parte da população que procura o atendimento na esfera da Assistência Social é composta por indivíduos e famílias que apresentam laços afetivos enfraquecidos pelo desajuste familiar, pelas dificuldades econômicas ou questões sociais como, por exemplo; abuso de substâncias psicoativas, violência doméstica dentre outros. Assim, as intervenções propostas devem ser pautadas além de uma sala de atendimento, visto diversas vezes termos que nos deslocar até a realidade de nosso usuário, ou seja, perceber na íntegra as contingências que atuam sobre o comportamento identificado como problema. Compreender o indivíduo ou família como fazendo parte de um sistema macro é outro ponto de relevância. Devemos sempre ao atender os usuários perceber sua realidade. As intervenções devem ultrapassar a relação entre o usuário e o profissional. Assim, identificamos outra questão; a importância dos trabalhos com grupos operativos. O profissional da Psicologia inserido na esfera da Assistência Social deve buscar aprimorar o trabalho com grupos visto este apresentar resultados mais eficazes. Através do grupo, os participantes sentem-se mais a vontade para expor seus pensamentos, medos e dúvidas. O grupo incentiva a participação dos familiares, favorecendo a mudança de comportamento através da troca de histórias e conhecimento, proporcionado assim, uma melhoria na qualidade de vida das pessoas inseridas.
Outra temática importante que deve ser mencionada pauta-se na realização do trabalho multi e interdisciplinar. O Psicólogo inserido no CRAS estará invariavelmente articulado com no mínimo um Assistente Social, um coordenador que deverá apresentar formação a nível superior aqui, comumente nos deparamos um a figura do Pedagogo além de profissionais de ensino médio que atuam como monitores junto aos usuários. Portanto, construir o papel do Psicólogo dentro de uma equipe tão mista é de extrema importância. Nos encontros que participei tanto na esfera estadual como municipal, na regional da SEDESE identifiquei diversos profissionais que apresentavam dificuldade na realização do seu trabalho. Ao realizar uma escuta mais detalhada pude identificar que grande das insatisfações apresentadas estavam pautadas em uma disputa entre os profissionais do Serviço Social e da Psicologia. Devo destacar a importância do constante diálogo entre estes profissionais visto, serem o carro chefe das atividades de um Centro de Referência da Assistência Social. Portanto, volto a destacar a mudança do paradigma de que Psicólogos não realizam visitas domiciliares, ou de que Assistentes Sociais não podem mediar uma reunião com grupos operativos. Acredito, portanto, que grande parte destas problemáticas está enraizada na articulação entre os conhecimentos científicos de cada profissão, ou seja, na interdisciplinaridade.
Outro fator que dificulta ainda a oferta de um trabalho mais eficaz e eficiente pauta-se nos nas poucas capacitações ofertados pelos governos municipais, estaduais e federal. A pouco tempo não havia um documento que norteasse de forma clara a atuação deste profissionais. Ressalto, que o CREPOP publicou em julho de 2008 uma
cartilha que facilitou a atuação do Psicólogo na temática do CRAS.
Assim, diante das questões apresentas verifica-se que o campo da Assistência Social é um caminho que deve ser traçado por nós, profissionais da psique. Muito ainda deve ser estudado para a concretização do Sistema Único da Assistência Social e acredito que nossa ciência pode, através da compreensão do comportamento humano ampliar as intervenções propostas por esta lei bem como demonstrar a importância da atuação dos Psicólogos nas mais diversas áreas de nossa sociedade.

0 comentários:

Postar um comentário